domingo, fevereiro 26

O passeio aleatório

Em conversa com Francis Fukuyama, Peter Thiel expõe convicções pouco politicamente correctas.

Vivemos num mundo em que a previsibilidade e os modelos deterministas cederam lugar aos modelos probabilísticos, que na verdade tiram substância a qualquer planeamento racional. O desenvolvimento tecnológico, motor de progresso até aos anos 50 e 60, tem vindo a desacelerar. Regulamentação exagerada da actividade científica tem o efeito de tornar mais fácil o trabalho em finanças e informática do que nas engenharias, onde é necessário experimentar com coisas reais. A ciência sofre os efeitos de uma politização intensa, estando a competição por projectos de investigação sujeita a um processo burocrático com efeitos tóxicos. Temos hoje 100 vezes mais cientistas per capita do que em 1920, mas com produtividade inferior.

Thiel, que vê no sistema educacional, rodeado de incentivos que lhe exageram o valor, uma borbulha que não tardará a rebentar, não se entusiasma com as escolas privadas, que na prática vivem à sombra dos subsídios do sistema estatal. Decepcionado com o desempenho das universidades criadas nos últimos 20 anos, desistiu do projecto de criar uma nova e em vez disso instituiu bolsas destinadas à criação de empresas.

Com Leo Strauss, pensa que o domínio da "correcção política", responsável pela censura de verdades que deveriam ser ditas, é o nosso maior problema político.

A avaliação nas universidades, ou os metricadores

Desde que há uma nova legislação para o Ensino Superior, as universidades vivem mergulhadas em tarefas de avaliação esgotantes e insensatas.

Para dar cumprimento ao legislado, cada uma desenhou a sua grelha de avaliação do pessoal docente, assente em parâmetros e fórmulas de complexidade variável, cuja aplicação envolve um esforço e dispêndio de tempo gigantescos. No final os resultados têm reduzida utilidade prática e um potencial efeito nocivo em termos do ambiente de trabalho.

A ilusão de que é possível classificar a qualidade por meio de grelhas muito finas e analíticas é também aplicada na selecção de candidatos aos consursos para as posições de carreira. O que está em curso é a tentativa de redução dos júris a uma manada obediente de metricadores (eu sei que o termo não existe), com a agravante de que a imposição de maioria externa no júri impede qualquer escola de contratar quem melhor se ajusta a determinado objectivo de desenvolvimento. Autonomia universitária? Ora, ora.

Este estado de coisas é possível por duas razões principais. Uma é a existência de instrumentos como o Excel que permitem, apesar de tudo, terminar as contas necessárias a uma avaliação com os avaliadores ainda vivos. Outra é uma daquelas ideias tão subrepticiamente disseminadas que nem damos por ela: é que toda a frenética actividade avaliativa parece grátis. E beneficia de uma comparação muito a gosto dos tempos actuais: também nas empresas privadas se avalia, por isso vamos nós fazer o mesmo. Fica por esclarecer sob que condições uma empresa não sustentada por impostos conseguiria manter-se se decisse ocupar o seu pessoal em tarefas avaliativas de tal envergadura em vez de dedicar-se à produção.

Poderia ser diferente? Sim, poderia. Revendo a sério o Estatuto da Carreira Docente Universitária. O que seria uma maçada para qualquer ministro, dado o previsível choque com lóbis amigos e inimigos.

sábado, fevereiro 25

O fim do "Público" em papel

Deixando em lágrimas e orfandade a opinião trotskista e mais sectária do país vizinho, o Público anuncia o fecho da sua edição em papel. Nascido para servir de contraponto ao El País quando este achasse oportuno incomodar o PSOE e Zapatero, alimentado com subsídios do governo de então, a sua razão de ser está esgotada. A capacidade de atrair investidores também. Jaume Roures, presidente da Mediapro e accionista maioritário do jornal, culpa a crise, o digital e a política de esquerda pelo insucesso do projecto. Roures, ex-trotskista com currículo de preso político, está em Hollywood por causa da nomeação de Midnight in Paris para os óscares. Roures é co-produtor do filme. Boa sorte para o Midnight, que é bem bonito e humorado.

quarta-feira, fevereiro 22

Da invisibilidade

Ontem o jornal das 21 da SIC Notícias entrevistou o cineasta Miguel Gomes, agora premiado internacionalmente.

Miguel Gomes reafirmou o que já tinha dito noutros lugares: que é essencial que o cinema português seja subsidiado para que se possa manter esta "liberdade artística" tão característica dos nossos filmes e que tanto é apreciada lá fora. O que torna possível esta liberdade é o facto de se poder fazer filmes independentes do poder político e económico, diz ele. (E sobretudo da bilheteira também, esqueceu-se de acrescentar. Ver mais adiante.)

Explicou melhor na entrevista porque é que não são os impostos dos portugueses que subsidiam o cinema. São as taxas sobre operadores de audiovisual, produtoras de dvd, receitas de bilheteira.

Sublinhou ainda que o cinema português tem gozado de liberdade de criação, sem pressões por parte do poder instituído. Como se consegue essa liberdade dependendo de subsídios? perguntou o jornalista. Gomes explicou tudo cristalinamente, uma vez mais: o cinema português actua como elemento de contra-poder mas não preocupa muito a classe política porque tem pouca visibilidade. (Entenda-se, é visto por pouca gente.) Ah, ok quanto à invisibilidade do cinema português. Quanto á invisibilidade específica do cinema que poderia preocupar a classe política, julgo que a explicação é outra: é que tal cinema simplesmente não existe.

domingo, fevereiro 19

Serviço público: sair do Facebook

Dizem que é assim: entrar no Facebook com o correo electrónico e password habitual.

Ir  para https://ssl.facebook.com/help/contact.php?show_form=delete_account

ou

www.facebook.com/help/contact.php?show_form=delete_account

Aceitar e seguir o diálogo.

Depois, esperar 15 dias.

Detalhes aqui.